quinta-feira, 18 de março de 2004

O nascimento do amor

Barthes em seu Fragmentos do discurso amoroso, descreve três etapas a vida amorosa. Neste texto falarei sobre as duas primeiras: “a primeira é instantânea, a captura (sou raptado por uma imagem); em seguida vem uma série de encontros (encontros pessoais, telefonemas, cartas, e pequenas viagens), no decorrer dos quais “exploro”, extasiado, a perfeição do amado, ou melhor, a adequação inesperada de um objeto ao meu desejo: é a doçura do começo, o tempo idílico.”
Este doce tempo do começo é o tempo da paixão ardente, é o tempo em que a razão pouco importa. Tudo parece mais bonito aos nossos olhos quando encontramos o amor. Nunca a luz do sol, a chuva, as estrelas e o canto dos pássaros, parecem tão atraentes.
Só o que não é perfeito neste momento de paixão é não poder estarmos juntos a todo instante. A triste separação que a realidade nos obriga, às vezes dói como se estivéssemos perdendo uma parte de nosso próprio corpo. O trabalho, a família, os amigos, nada, nem ninguém nos importa. Tudo parece sem sentido quando não estamos na presença do amado. Sem sua presença nada tem graça, nem razão de ser. É o momento mágico que bem parece com a magia da simbiose entre a mãe e seu bebê.
Quase temos vontade de entrar no corpo do outro, e dois fazerem apenas Um, como no princípio eram mãe e filho. Um para quem a realidade pouco importa. Um para que não haja a tristeza da separação. E nas mãos entrelaçadas andando pelas calçadas, nos abraços que não se findam, no toque dos lábios, e no ato sexual, somos por alguns instantes este Um. Somos um a extensão do outro.
A história e os amigos gritam nos dizendo que esta paixão, êxtase de paixão, tende a não seguir adiante; tende a caminhar para o fim, para a triste desilusão do desencontro. Porém, surdos e cegos para tudo e para todos recusamo-nos a ouvi-los. Pouco importa a história dos outros, as desilusões dos outros. Resta-nos a certeza de que nossa história será outra, terá final de novela, sempre feliz. Resta-nos a certeza de que o amor nasceu em nós e ali permanecerá. Seremos o primeiro casal a provar que a realidade da vida e a realidade do desejo não irá nos a abalar.
Resta-nos, por fim, a prova do tempo... e como diz o poeta: que seja eterno enquanto dure.