sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Os não-tolos erram, ou o que os psicanalistas precisam aprender com os portugueses

Todos estavam prestes a apedrejar Maria Madalena, quando Jesus falou:
- "Quem nunca errou que jogue a primeira pedra!"
Um português juntou rapidamente do chão o maior pedregulho que achou e jogou, acertando Maria Madalena.
Jesus chegou até ele e perguntou:
- "Você nunca errou?"
O português respondeu:
- "Dessa distância eu nunca errei senhor!"

Um português liga para a delegacia e pergunta?
--O delegado está aí? Gostaria de falar com ele.
--Pode falar, é o próprio!
--Oi Próprio, tudo bem, chama o delegado pra mim, por favor.

Passando em frente a um chaveiro, um português vê a placa "Trocam-se segredos". Manoel entra na lojinha, olha para os dois lados e fala no ouvido do homem:- Eu sou gay, e você?

Dois amigos portugueses se encontram.
- Ó Manuel, há quanto tempo! Como anda o nosso amigo Joaquim?
- Você não sabe que desgraça aconteceu? O Joaquim foi pego roubando ovos, foi julgado e condenado.
- E daí?
- Ele foi enforcado!
- Meu Deus, pelos ovos?!
- Não pelo pescoço!

Um português estava parado na esquina quando um cara apressado perguntou pra ele:
- Você viu alguém dobrando a esquina? O português respondeu:
- Não senhor, quando cheguei aqui já estava dobrada!

São famosas e inúmeras as piadas que se faz a respeito da compreensão dos portugueses em relação aos ditos. Bem, ouso dizer que o que nos faz rir diante destas histórias não é digno de ser chamado de piada, mas sim de chiste.
Um chiste é uma formação da linguagem que nos provoca certo mal-estar e riso por nos transmitir uma verdade.
Mas qual seria a verdade para nós transmitida pela dita “piada de português”? Que verdade seria esta que nos causaria algo entre o riso e o mal-estar?
É a própria verdade de que não há relação imediata entre o significante e o significado.
Bem, vamos ver, do que se trata estas piadas: “Maria diz algo a Joaquim e Joaquim tem determinado comportamento por compreender de forma equivocada o que Maria havia dito. Equivocada? Será possível dizer que Joaquim entendeu errado? Ouso dizer que o que nos faz rir não é a possível tolice do Joaquim, pelo contrário, é o mal-estar ante ao encontro com o Real de que não há relação sexual. De que o significante não está colado ao significado, que, ao contrário, eles estão separados por uma barra. Do Real só podemos nos aproximar pela palavra. E elas não dão conta de nomeá-lo. Sempre se pode dizer mais ou se dizer menos e mesmo assim, o Real não pode ser apreendido.
Os não tolos erram. E se considerarmos o Joaquim um tolo, seremos nós os equivocados. Se nos considerarmos não tolos aos rirmos da tolice de Joaquim, estaremos incontestavelmente caídos no erro.
“Todos sabemos por que inventamos um truque para encher o furo (trou) no real ... Ali onde não há relação sexual, há traumatisme. Cada um inventa o que pode”. (Lacan, sem. XXI)
Nós inventamos chamar piada ao que os portugueses (pelo menos os da piada) nos mostram explicitamente: que não há relação estrita de significação, que não há relação sexual.