domingo, 4 de abril de 2004

Casar ou não casar: eis a questão!

Até algum tempo atrás, a questão exposta no título deste artigo não era pertinente, visto que havia a crença de que todos nós, seres humanos, nascemos e crescemos para nos unirmos a alguém e vivermos uma relação consolidada pelos laços do matrimônio. E ainda mais: esta união havia de ser respaldada pelas duas maiores instâncias da Lei em nossa cultura: a Igreja e o Estado.
Então, com a certeza inabalável de estar dando um passo a frente em seu desenvolvimento pessoal, de estar cumprindo “as ordens da natureza humana”, homens e mulheres casavam-se no religioso e no civil.
Porém, nossa modernidade é marcada, sobretudo, por um grande abalo nas certezas, nas convicções. Vivemos em um momento da história em que tudo se questiona. Também vivemos a era das sensações, dos pequenos prazeres, na qual os sentimento são efêmeros, evanescentes.
Nesta era dos questionamentos e da efemeridade, repensa-se as relações interpessoais, dentre elas, o casamento.
O casamento como vínculo contratual deixou de ser obrigatoriedade, mesmo que moral, e cada vez mais o número de vínculos destes modos de vida tem-se dispensado e até mesmo desfeito.
Mas porque nosso comportamento em relação a esta temática tem se transformado tão duramente? Em geral, a crítica que se faz a instituição casamento refere-se, sobretudo, a subjugação a que, na maior parte das vezes, se impõe os envolvidos em tal relação. No casamento é como se desaparecessem os sujeitos para nascer um terceiro elemento: a relação.
E como vivemos numa época na qual se considera largamente a subjetividade, a individualidade e os interesses de cada um, cada vez menos cedemos aos interesses dos outros em detrimento dos nossos, e já nos diziam os antigos: casamento é doação... Logo, dizemos cada vez menos sim ao casamento. Só que ainda não sabemos direito o que fazer com estas incertezas a respeito desta temática. Devemos entender que este novo tipo de comportamento é fruto de nosso momento histórico, é próprio da modernidade. Como diz Jurandir Freire Costa, hoje em dia “queremos um amor imortal, mas com data de validade marcada”, ainda não abandamos nosso ideal de felicidade que está ligado a um relacionamento amoroso, mas ao mesmo tempo, questionamo-nos sobre ele. Assim, a pergunta sobre casar-se ou casar-se assola-nos constantemente a cabeça.
Devemos nos perguntar: é ruim isto que está nos acontecendo? É ruim estar privilegiando tanto o sujeito em detrimento destas relações historicamente criticadas? Na verdade não. Pelo contrário. Não há nada de ruim quando conseguimos nos relacionar com alguém sem desconsiderarmos nossos próprios desejos e interesses, bem como os desejos e interesses daquele com quem nos relacionamos.
Porém, temos que tomar o cuidado para não assumirmos uma moral inversa, isto é, não dizermos não aos vínculos só pelas críticas que se fazem a eles. Devemos, sim, sempre repensarmos a forma de vida que levamos, sobretudo para encontrarmos nosso próprio desejo.

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