sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Vertigem

A vida acontecia no interior, onde as pessoas andavam descalças para brilhar com seus sapatos na missa de domingo. Este era lugar importante, definitivo. Lugar que fez marcas no corpo com as palavras cantadas e rezadas. É incrível como estas palavras podem atravessar um corpo, às vezes esculpe-os. Mais tarde já não mais crente na consciência, sentiu-se atravessada pela reza, como se as palavras rezadas circulassem junto com o sangue por todo o corpo. Queria sentir isto para sempre. Diferente do que dizem nos livros cor-de-rosa, querer não é poder – sorte da civilização. E num domingos destes, depois da missa, ainda menina bem pequena, fingiu que dormia, e na malandrice, podia ser levada. Já levava a sério a seriedade, tinha que ser congruente com a malandrice. Malandrice é seriedade se feita com convicção. Ela fez com convicção, e acreditou tanto que aquele sono que fingiu grudou em seu corpo e nunca mais a abandonou

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